Imagens de câmera de segurança é única pista no desaparecimento de jovens em Goiás
SÃO PAULO – A polícia de Goiás já tem uma pista no sumiço de seis adolescentes na cidade de Luziânia.
Gravações feitas pela câmera de segurança de uma casa lotérica mostram que uma pessoa pagou uma conta de luz no lugar de um dos jovens que sumiu. A conta de luz foi paga num dos guichês às 9h40m. Segundo a família, Paulo Victor Vieira Lima, de 16 anos, saiu de casa com uma tarefa: pagar a conta de luz.
O jovem trabalhava com o tio numa lanchonete. No dia 4 de janeiro, ele saiu às nove da manhã para ir à lotérica e voltou á lanchonete uma hora depois com um homem desconhecido.
– Ele veio conversando com um rapaz, como fossem dois amigos. Me entregou a conta de energia. E falou: ‘tio, eu vou ali, rapidinho’ – contou Wesley Viera de Azevedo, tio de Paulo Victor.
O homem foi descrito como moreno, magro, com cerca de 1,70m e 35 anos.
– O rapaz estava vestido de camiseta amarela e calça jeans. Agora o rosto eu não vi – disse Wesley.
Paulo nunca mais apareceu.
Além dele, sumiram, em menos de um mês, outros cinco jovens de Luziânia, cidade que fica a 60 quilômetros de Brasília: Diego Alves Rodrigues, George Rabelo dos Santos, Divino Luiz Lopes da Silva, Flávio Augusto Fernandes dos Santos e Márcio Luiz Lopes.
Os seis jovens que desapareceram não eram amigos e nem as mães se conheciam. Eles também não estudavam na mesma escola. Até agora, a polícia não encontrou nenhuma ligação entre eles. A única situação em comum é que todos desapareceram no mesmo bairro.
As imagens da lotérica onde Paulo Victor deveria ter ido foram mostradas ao tio do rapaz. Ele não aparece. O tio de Paulo Victor também não identificou no vídeo o homem que acompanhou o sobrinho até a lanchonete.
– Não tem o rapaz que estava com ele – disse Wesley.
A família assistiu às seis horas de gravações e confirmou que Paulo não entrou na lotérica.
Agora, a polícia tenta saber quem pagou a conta e se essa pessoa está envolvida no desaparecimento dos jovens.
Há indícios de que pelo menos três criminosos agiram na cidade: dois homens e uma mulher.
– Acho que eles raptaram ele, levaram ele para alguma coisa. Não é dinheiro que eles querem, já que até hoje nunca ninguém pediu nada – disse Sônia Azevedo Lima, mãe de Paulo Victor.
– A polícia trabalha com a hipótese de rapto, sequestro, de homicídio. E o elemento motivador desses crimes – o sequestro para o trabalho escravo – é uma das hipóteses – explicou Ernesto Roller, secretário de segurança pública de Goiás.
A família das vítimas dizem que os jovens tinham documentos e estavam o celular quando desapareceram.
– Estava com os documentos e com o celular. Parece que abriu um buraco no chão, engoliu e pronto. E a gente não tem mais noticia nenhuma – declarou Lúcia Souza Lopes, irmã de Márcio.
– Ele vendo essa situação, as mães aflitas, ele ligaria: ‘mãe, comigo não precisa se preocupar’ – disse Marisa Lopes, mãe de Divino.
Diego, de 13 anos, sumiu no dia 30 de dezembro.
Foi o primeiro caso.
– Ele sempre avisava quando saía, se ia numa lan house, se ia num mercado. Parece que virou fumaça – disse Gláucia Gomes de Souza, mãe de Diego.
Um sistema com 22 câmeras monitora a cidade. Mas toda essa tecnologia que poderia ajudar na investigação não está funcionando. Não há ninguém capacitado para operar os computadores na cidade. O sistema foi implantado no mês passado, mas até agora prefeitura e Policia militar não se entenderam.
– Nós estamos aguardando o efetivo da policia militar e a capacitação dos profissionais para executar esse serviço – explicou Liosório Meireles, secretário municipal do Gabinete de Gestão Integrada.
– Três policiais militares já foram treinados – explicou o coronel Mauro Teixeira Candido, comandante da PM de Luziânia.
Flávio, de 14 anos, foi o quinto jovem que sumiu. A mãe diz que a polícia deveria ter alertado do perigo.
– Não sabia que tinha mais quatro desaparecidos. É um vazio – disse Valdirene Fernandes da Cunha, mãe do Flávio.
A 90 quilômetros, na cidade de Alexânia, há outro caso recente de desaparecimento.
Tamilys Ferreira da Silva, de 11 anos, saiu de casa para encontrar a mãe no trabalho e nunca mais foi vista.
– A gente não sabe o que faz, não sabe o que aconteceu – declarou Valdevina Ferreira, mãe de Tamilys.
– Eu faço um apelo: alguma pessoa que tenha conhecimento, que viu, tem algo a acrescentar, a oportunidade de contar é agora – pediu o delegado José Luiz Martins de Araújo.
– As autoridades vão achar nossos filhos. Eu tenho fé que eles vão aparecer com vida – disse Sirlene Rabelo, mãe de George.
Origem: O Globo
Marcelo Peres
Editor do Guia do CFTV
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