O
sociólogo Luiz Fábio Paiva faz uma análise de como as medidas de
prevenção de segurança estão se voltando para a construção de muros e
reinos privados.
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Morar, conviver e circular em grandes
cidades nunca foi tarefa das mais fáceis. São múltiplos os problemas
relacionados à intensificação da vida em centros urbanos que abrigam
milhões de pessoas com distintas condições de vida e visões de mundo.
Congregar a liberdade devida aos moradores das cidades à proteção que
também lhes é devida parece ser um dos maiores desafios enfrentados
pelos governos juntamente com a sociedade civil.
Além de monitorar o trânsito da cidade, as câmeras do CTAFor são
acompanhadas por um policial militar(Foto: Georgia Santiago)
Fortaleza experimenta, nos últimos anos, uma intensificação do seu
processo de urbanização acompanhada de benesses e prejuízos. Dentre os
problemas da cidade está o avanço da violência urbana, sentido pelos
moradores tanto devido à expansão dos crimes contra a pessoa, quanto à
maior visibilidade que esses eventos passaram a ter nos jornais. Diante
dessa situação, o Governo do Estado do Ceará parece disposto, através
de uma série de medidas, a reduzir a violência em Fortaleza.
Apesar de menos da metade do mandato cumprido, pode-se dizer que o
Governo Cid Gomes já deixou algumas marcas em relação ao modo como o
fortalezense se relaciona com sua cidade. A primeira etapa dessa
mudança foi o fato de os moradores passarem a conviver com policiais de
farda azul, circulando em viaturas bem equipadas e com orientação de
prestar um serviço de policiamento "mais próximo das comunidades". É
cedo para avaliar o resultado do aumento da presença policial nos
bairros de Fortaleza, mas sabe-se que atualmente as pessoas parecem
estar relativamente satisfeitas com o patrulhamento sistemático das
áreas de moradia. Contudo, percebe-se que a criminalidade urbana tem
encontrado novos meios de se manifestar e que a violência policial
ainda não deixou de ser uma triste lembrança do passado.
Além do que já vem sendo feito, três medidas anunciadas pelo
Governo do Estado do Ceará chamam atenção pelo que podem trazer de bom
ou não para os habitantes de Fortaleza. A primeira refere-se à proposta
que visa oferecer gratificações aos policiais militares que em suas
áreas de atuação conseguirem diminuir os índices de criminalidade. Será
esse o caminho adequado para a segurança pública? Cabe realmente ao
policial a responsabilidade de diminuir os índices de criminalidade? Se
os crimes urbanos forem pensados como problemas correspondentes à
estrutura e dinâmica da cidade, observar-se-á que suas causas
ultrapassam as possibilidades do trabalho policial. Inclusive porque os
policiais são seres humanos limitados diante de um cenário urbano
permeado por múltiplas formas de desigualdades sociais.
A segunda medida é a adoção de 250 câmeras, distribuídas por
diversos pontos de Fortaleza. A vigilância eletrônica estará em mais
pontos e sem dúvida permitirá às agências de segurança pública novas
formas de enfrentar o crime urbano. É possível que o
vídeo-monitoramento de determinados espaços urbanos gere mais
tranqüilidade à população. Não obstante, é importante destacar que
embora as câmeras possibilitem a identificação dos "inimigos da paz
urbana", permitindo ação rápida dos policiais nas áreas monitoradas,
elas não fornecerão às agências de segurança a onipresença de um Deus
que tudo vê e tudo sabe. As sombras ainda continuarão existindo. E
conforme revela o mapa das áreas que serão monitoradas, as sombras se
alastrarão principalmente na periferia da cidade.
Concomitante à instalação das câmeras, vem a criação de uma cerca
de dois metros e meio em torno do Parque do Cocó para impedir a fuga de
bandidos para o mangue. Em medidas menos abrangentes, cada morador de
Fortaleza já cercou a si e aos outros em um movimento contínuo e
crescente de segregação. Nem sabemos mais ao certo de quem e do que nos
cercamos. Em nome da segurança, os cidadãos protegem seus espaços
privados com muros, cercas elétricas e sistemas sofisticados de
segurança. A cerca do Parque do Cocó será mais uma das inúmeras que
existem em Fortaleza.
Aos poucos, a possibilidade de um urbanismo pautado nos ideais de
beleza cede lugar ao urbanismo pautado na necessidade de garantir paz e
tranqüilidade. O medo de crimes que se experimenta na pele e que os
noticiários apresentam em escala industrial como retrato fiel da
realidade, assim como a insegurança sentida diante do simples fato de
morar e circular na cidade são os novos sentimentos orientadores da
urbanização contemporânea. O Governo do Estado do Ceará parece
interessado em resolver problemas e mudar os sentimentos dos moradores
de Fortaleza. Ao fim de algum tempo, seja na clausura dos condomínios
fechados ou em um boteco qualquer, será possível avaliar os resultados
das "requentadas" medidas de segurança com as quais os fortalezenses
aprenderão a lidar ao morar, conviver e circular por sua cidade.
Luiz Fábio é doutorando em sociologia pela UFC e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV).
Origem: http://www.opovo.com.br/opovo/vidaearte/800233.html
Marcelo Peres
Editor do Guia do CFTV
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