A trama de espionagem a seguir poderia ter sido inventada pelo escritorIan Fleming, o criador de James Bond, mas ocorreu de fato, em Dubai,nos Emirados Árabes Unidos. Mahmoud al-Mabhouh, líder do braço militardo grupo extremista palestino Hamas, foi misteriosamente assassinado em19 de janeiro no luxuoso Al-Bustan Rotana Hotel.
Em um crime com 11 suspeitos, passaportes falsos, uso de disfarces eimagens dos supostos assassinos gravadas por câmeras de segurança,muitas questões ficaram em aberto. A principal é a real identidade dosacusados.
Em janeiro, a polícia de Dubai informou que Al-Mabhouh– ele próprio acusado de uma série de sangrentos ataques contraisraelenses – foi morto horas após chegar à cidade, por uma “gangue decriminosos profissionais”, que deixou Dubai antes de o corpo serdescoberto, em 20 de janeiro. Havia diferentes relatos sobre a causamortis do líder militar do Hamas: eletrocussão, sufocamento ouenvenenamento. Segundo as imagens de câmeras de segurança do hotel,divulgadas em 16 de fevereiro, os suspeitos teriam até subido deelevador com a vítima. Quase sempre em duplas, os membros do grupoconfirmaram qual era o quarto do alvo, entraram lá e o mataram. Asimagens flagram inclusive o sorriso de uma integrante do grupo para acâmera. Mas, afinal de contas, para quem eles trabalhavam?
Asprincipais suspeitas recaem sobre o Mossad, o serviço secreto de Israel(veja abaixo). Al-Mabhouh, 50 anos, vivia na Síria e fundou o braçomilitar do Hamas, as Brigadas Ezzedine al-Qassam. Especialistasisraelenses afirmam que ele seria o elo entre o Hamas e o Irã paraoperações de contrabando de armas para a Faixa de Gaza. De acordo comsua família, ele havia sobrevivido a diversas tentativas deassassinato, incluindo uma, há três meses, que o deixou em coma por 24horas.
O ministro das Relações Exteriores israelense, AvigdorLieberman, recusou-se a comentar o assassinato, afirmando que, sobreassuntos da inteligência de seu país, “Israel nunca reage, não confirmae nem desmente”. Apesar disso, o país teme que o episódio tenha umprofundo impacto no Oriente Médio e na política do Hamas.
Uso de passaportes europeus gera polêmica
Eo caso, como qualquer boa trama de espionagem, inclui muitos pontos deinterrogação. Segundo a investigação da polícia de Dubai, os suspeitos,que tiveram seus supostos nomes e fotos divulgados, entraram nosEmirados Árabes usando passaportes europeus falsificados: seisbritânicos, três irlandeses, um alemão e um francês. Uma investigaçãopreliminar britânica confirmou que as fotografias e as assinaturas dospassaportes britânicos usados pelos supostos assassinos, que traziam osnomes de cidadãos israelenses de origem britânica, não correspondiam àsdos passaportes originais. O Ministério das Relações Exterioresirlandês informou que não havia expedido passaportes com os nomesutilizados pelo grupo, enquanto o governo da Alemanha revelou que onúmero do documento alemão também era falso.
As autoridades de Dubai emitiram mandados internacionaisde prisão para os 11 suspeitos, que foram incluídos na semana passadana lista dos mais procurados da Interpol. A divulgação das fotos e dosnomes dos suspeitos surpreendeu aqueles que tiveram suas identidadesutilizadas. Paul Keeley, 42 anos, um empreiteiro que vive no norte deIsrael há 15 anos, é um deles. De acordo com o jornal britânico TheDaily Telegraph, ele afirmou que não sai de Israel há dois anos:
–O passaporte não foi roubado, então não sei o que pode ter ocorrido.Acordei esta manhã e, de repente, minha vida é como um filme deespionagem – reclamou Keeley.
O atrito diplomático aumentou naquinta-feira passada. O ministro britânico das Relações Exteriores,David Miliband, considerou o uso dos passaportes britânicos “umultraje” e afirmou que irá ao fundo na questão. Ainda na quinta-feira,o chefe da polícia de Dubai, general Dhahi Jalfan, indicou oenvolvimento do Mossad no crime:
– É 99% certo, se não 100%, que o Mossad está por trás do assassinato – afirmou ele.
Entretodas as questões a serem respondidas, algumas se destacam. Os estragoscausados pela intriga podem ultrapassar a retórica diplomática? E aautoria do crime, será comprovada ou ficará só no nível de acusações? Aintriga internacional terá um gran finale?
Origem: Zero Hora
Marcelo Peres
Editor do Guia do CFTV
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