Chega ao fim o drama dos 33 mineiros no Chile
Chegou ao fim na noite de quarta-feira o drama dos 33 mineiros que ficaram presos por mais de dois meses em uma mina no Deserto do Atacama, no Chile.
O último mineiro a ser retirado – o líder do grupo, Luis Urzúa – chegou à superfície às 23h no horário do Chile (mesmo horário de Brasília), pouco mais de 22 horas após o primeiro resgate na mina San José.
Aos gritos de "Chi-chi-chi le-le-le", Urzúa saiu da cápsula animado e, logo após abraçar seus familiares, começou a contar detalhes do drama vivido por ele e seus 32 colegas.
Ele agradeceu aos técnicos que estavam no local e principalmente ao presidente chileno, Sebastián Piñera, que permaneceu na saída da mina desde o primerio resgate.
"Tínhamos pouca comida, mas soubemos administrá-la. Estávamos comendo quase a cada 48 horas", disse Urzúa a Piñera sobre os primeiros 17 dias, quando ficaram incomunicáveis. "Espero que isso não volte a acontecer nunca mais."
Assim que último mineiro foi resgatado, a euforia tomou conta não apenas do acampamento que cerca a mina, mas de todo o Chile. Imagens de TV mostravam chilenos chorando, agitando bandeiras e celebrando em várias cidades do país.
Teve início então a operação para retirar os seis socorristas que desceram ao local para ajudar os mineiros a subir. Pela câmera que filmou todo o resgate na mina, eles mostravam uma faixa na qual se lia a frase "Missão cumprida, Chile". O sexto socorrista chegou à superfície à 0h30.
Um outro Chile
Piñera agradeceu ao trabalho de liderança feito por Urzúa e brincou dizendo que a partir dali ele assumia o turno do trabalho. "O Chile não é o mesmo país que tínhamos há 69 dias. O Chile está mais unido do que nunca. É um país mais valorizado e respeitado no mundo inteiro", afirmou.
"Tenho dito desde o primeiro dia: isso não vai ficar impune. Esta mina não tinha condições de estar funcionando e será fechada", disse o presidente, acrescentando que o acidente e o resgate representaram uma grande lição para melhorar os procedimentos de mineração no país e no mundo.
Ele indicou que pretende aumentar o rigor para o funcionamento das minas no país – maior produtor mundial de cobre. "Minas como esta não podem funcionar mais. Nos próximos dias, anunciaremos normas (para os trabalhadores) para que possamos defender melhor a vida."
Piñera agradeceu aos presidentes que lhe telefonaram para dar apoio, como o brasileiro Luis Inácio Lula da Silva, o mexicano Felipe Calderón e o venezuelano Hugo Chávez. "Estivemos no coração do mundo e mostramos o melhor do Chile. Foi uma noite de emoções e alegrias que vai ficar gravada para sempre nos nossos corações."
O líder chileno afirmou ainda que o resgate dos mineiros vai mudar a imagem do país perante ao mundo, que passará a associar o Chile não com a ditadura militar, mas sim com o esforço e a união nacional para salvar os 33 trabalhadores.
No fim da entrevista à emissora pública chilena TVN, ele reconheceu ter sido orientado a não se envolver diretamente no caso envolvendo o acidente (ocorrido em 5 de agosto), porque as chances de haver sobreviventes eram mínimas. Somente 17 dias mais tarde, no dia 22 de agosto, foi encontrado o bilhete, escrito por um dos mineiros, que dizia: “Estamos todos bem, os 33, em refúgio”. Na ocasião, a prova de vida foi mostrada por Piñera, sorridente, às câmeras de televisão.
Problemas nos dentes e olhos
O ministro da Saúde chileno, Jaime Manalich,disse que a saúde dos mineiros resgatados estava melhor do que se esperava. Ele afirmou que alguns têm problemas dentários graves e outros sofrem com problemas nos olhos, por terem ficado tanto tempo na escuridão da mina.
O médico Álvaro Alonso, que trabalha no hospital de Copiapó, para onde os 33 trabalhadores foram levados, também se surpreendeu com o bom estado de saúde deles. "Em geral, estão em ótima condição física", afirmou Alonso, acrescentando que a maioria deve deixar o local em 48 horas.
A rapidez com que os resgates foram feitos surpreendeu até mesmo as autoridades chilenas, que até a terça-feira anunciavam que a operação poderia durar até 48 horas, o dobro do tempo real do resgate. Segundo autoridades, o processo foi agilizado porque não houve as complicações previstas com a fibra ótica que faz a comunicação com o interior da mina.
‘Volta à vida’
De óculos escuros para proteger os olhos após dois meses sem ver a luz do sol, Florencio Ávalos foi o primeiro a chegar à superfície à 0h10 local (mesmo horário de Brasília), após ser içado de 624 metros de profundidade em uma cápsula. Em seguida, saíram Mario Sepúlveda, Juan Illanes, Carlos Mamani e o mais novo de todos, Jimmy Sanchez, de 19 anos, pai de um bebê de quatro meses.
O sexto mineiro foi Osmán Araya, que chorou ao abraçar a esposa Angélica. Em seguida, foi resgatado José Ojeda, autor do bilhete encontrado no dia 22 de agosto, afirmando que os mineiros estavam vivos.
O oitavo trabalhador a sair da mina foi Claudio Yánez. Em seguida saíram Mario Gómez (9º), Alex Vega (10º), Jorge Galleguillos (11º) e Edison Peña (12º). "Estou de volta à vida", disse Gómez, de 63 anos, o mais velho dos 33 homens presos há dois meses em uma mina no norte do país.
Pouco antes das 11h chegou à superfície o 13º mineiro, Carlos Barrios, de 27 anos. O 14º a sair foi Víctor Zamorra, seguido por Víctor Segovia (15º), Daniel Herrera (16º), Omar Reygadas (17º), Esteban Rojas (18º), seu primo Pablo Rojas (19º), Dario Segovia (20º), Yonni Barrios (21º), Samuel Ávalos (22º), Carlos Bugueño (23º), José Henríquez (24º), Renán Ávalos (25º), Cláudio Acuña (26º), Franklin Lobos (27º), o mecânico Richard Villarroel (28º), o supervisor Juan Carlos Aguilar Gaete (29º), Raúl Bustos (30º), Pedro Cortez Contreras (31º), Ariel Ticona (32º) e, por fim, Urzúa.
Ávalos, Sepúlveda e Illanes foram escolhidos para serem os primeiros a subir por serem os mais fortes do grupo – logo, estariam mais capacitados para lidar com eventuais dificuldades na subida.