Internet das coisas pode causar picos de demanda de energia

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Efeitos colaterais da internet das coisas

Um dos aparelhos que primeiro aderiram ao conceito de internet das coisas, os termostatos estão presentes em virtualmente todas as casas nos países de zona temperada, onde eles são necessários para manter a casa e a água aquecida durante os frios meses de inverno.

Pois foram justamente esses termostatos inteligentes que permitiram observar um efeito colateral indesejado dessa tecnologia, na qual a “inteligência” tipicamente se refere à inclusão de sensores e processadores, para que os aparelhos possam fazer seu trabalho sem intervenção humana.

Como frequentemente acontece com os aparelhos eletrônicos, a maioria dos usuários não altera as configurações padrão que vêm de fábrica – é bem conhecido o fato de as pessoas sequer alterarem as senhas dos seus aparelhos.

E, definidos de fábrica para ligar antes do amanhecer, os termostatos inteligentes acabam ligando todos ao mesmo tempo, provocando picos generalizados de demanda de energia na rede.

“Muitas casas têm seus termostatos inteligentes, que reduzem as temperaturas à noite no inverno,” explicou o professor Max Zhang, da Universidade de Cornell, nos EUA. “A temperatura pode ser programada para aumentar antes de você acordar – e você terá uma casa quente. Essa é a coisa inteligente a se fazer. Mas, se todos mantiverem sua configuração padrão, digamos seis da manhã, a rede elétrica sofrerá picos de demanda sincronizados, e isso não é inteligente para o sistema. Esse é o desafio.”

Benefícios anulados

Os proprietários de residências que instalam um termostato inteligente – estima-se que eles já estejam em 40% das casas nos EUA – podem optar por compartilhar seus dados “anonimamente” com as concessionárias de energia elétrica, para fins de pesquisa – cada aparelho tem seu próprio código de identificação.

Foi usando esses dados que Zhang e seu colega Zachary Lee descobriram que a maioria dos proprietários usa as configurações padrão de fábrica do termostato inteligente. E pesquisas diretas em 2.200 casas, visitadas pela dupla, revelaram que os moradores continuam confusos sobre como operar seus termostatos e muitas vezes não conseguem sequer programá-los.

Embora os horários de ligar e desligar os termostatos estejam permitindo alcançar um benefício moderado de economia de energia – entre 5% e 8%, contra os 25% prometidos – as demandas de pico são concentradas justamente quando a energia renovável não está disponível, agravando a demanda de pico em quase 50%, de acordo com os pesquisadores.

E essa demanda precisa ser atendida por termoelétricas alimentadas por combustíveis fósseis, anulando os benefícios esperados na diminuição da emissão de gases de efeito estufa.

Mais inteligência onde?

Zhang afirma que há maneiras de lidar com a crescente pressão na rede, como educar os consumidores sobre como usar os termostatos inteligentes. Criar escalas de horário para seu acionamento também seria uma opção, mas isso pode ir contra o interesse individual de obtenção do máximo de conforto e de economia, a menos que sejam medidas obrigatórias.

“O problema não é simples, devido às questões de segurança e privacidade envolvidas com os proprietários,” disse Zhang. “No final, no entanto, temos que tornar os termostatos inteligentes ainda mais inteligentes.”

Ou talvez, colocar as pessoas na equação da internet das coisas – pessoas que não apenas devem se beneficiar da tecnologia, mas que são essenciais para que os benefícios da tecnologia sejam totalmente alcançados.

 

 

 

 

 

 

 

 

João Marcelo de Assis Peres

joao.marcelo@guiadocftv.com.br

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