Olho eletrônico contra o crime
Pequenas e médias cidades também apostam em câmeras de segurança para combater a criminalidade.
O Big Brother chegou aos rincões brasileiros. Pequenas e médias cidades aderiram às câmeras de monitoramento para conter delitos em ruas, praças, escolas e distritos rurais. No Paraná, os municípios de Candói, Matinhos e Apucarana são alguns dos vigiados pelos olhos eletrônicos. Na Região Norte do estado, um consórcio foi criado para ampliar o sistema em dez cidades.Apucarana, nessa região, instalou 33 câmeras em 2008 com recursos municipais de R$ 1,2 milhão. Desde aquela época, a cidade de 120 mil habitantes viu os delitos caírem cerca de 67% nos pontos onde as câmeras foram colocadas: na saída da cidade, em dois distritos e na região central. No entanto, houve a migração do crime para outros locais, por isso, a prefeitura pretende adquirir mais 27 câmeras para vigiar locais considerados frágeis. Para isso, o município passou a integrar um consórcio com outras nove cidades que também ampliarão o sistema ou passarão a usar as câmeras pela primeira vez, a exemplo de Tamarana e Bela Vista do Paraíso. Os recursos serão bancados pelo Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci).
Análise:
Política para o setor é indispensável
As câmeras são um aparato importante para a segurança, mas não podem ser consideradas a solução para a criminalidade, segundo especialistas.Para o sociólogo do Instituto Sangari Julio Jacobo Waiselfisz as câmeras têm um papel positivo porque reduzem a violência em locais onde estão instaladas, no entanto, a criminalidade acaba migrando para outros espaços. Por isso, para conter a violência é preciso que o estado estabeleça ações intensivas que façam parte de um plano global de segurança. “O monitoramento reduz a violência nos espaços, mas ela surge em outros locais com menos vigilância”, diz.Na análise do sociólogo e professor doutor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) Eduardo Vior, os equipamentos podem ser um problema e invadir a privacidade caso estejam instalados em locais inadequados. Para ele, uma política de prevenção não pode ser apenas baseada no monitoramento. “É preciso policiais nas ruas.”Segundo o professor, a sociedade precisou usar o recurso de monitoramento eletrônico porque a desigualdade, apontada como primeira causa dos problemas de segurança, gerou uma segregação espacial. Por isso hoje nas cidades há condomínios fechados e lugares que tendem a ter concentração de ricos e bolsões de pobreza. Essa falta de integração urbana faz com que alguns locais fiquem isolados e sem circulação permanente de pessoas, o que predispõe à ocorrência de crimes. “A saída é criar circulação permanente, com isso se diminuiu o risco de crimes.”“O crime migra um pouco e nos locais onde não havia delitos, começam a ocorrer. Por isso, vamos reforçar”, diz o gerente de Segurança do Trânsito e Transporte da prefeitura de Apucarana, José Luís Alves Miguel. Há receio de que municípios situados no entorno de cidades polo que já contam com monitoramento eletrônico também passem a ser alvo de marginais. Por isso, o consórcio formado na Região Norte inclui cidades pequenas do entorno de Londrina.Candói, na região Central do estado, também pretende expandir o sistema com o monitoramento de toda a cidade. Hoje, quatro câmeras funcionam no centro. O município quer aproveitar a infraestrutura de internet banda larga existente para ampliar a vigilância. “O policial não vai mais precisar parar para fazer a ronda. Ele fica apenas clicando no mouse”, diz o prefeito Elias Farah (PSDB).A intenção do prefeito é instalar, em curto prazo, mais 13 câmeras no município de 15 mil habitantes. Os equipamentos serão colocados em pontos estratégicos do centro e na entrada da cidade, incluindo as imediações da BR-373, que corta o município. Em uma segunda fase, o prefeito planeja colocar outros oito equipamentos na zona rural para monitorar a movimentação em igrejas e escolas, totalizando 25. Os recursos são da própria prefeitura.
O 3.º sargento da PM em Candói, Alvaci José Alves, diz que as câmeras fazem diferença na segurança de cidades pequenas, onde o efetivo policial costuma ser reduzido e a criminalidade está presente como em qualquer outro centro, em especial na porta das escolas, com a presença de traficantes. Além de facilitar investigações e detectar flagrantes, os dispositivos previnem a ação de marginais e servem para monitorar o patrulhamento de policiais nas ruas. “Está certo que vira um Big Brother, mas o efetivo da polícia é reduzido”, diz . Matinhos, no litoral do estado, é outro exemplo de cidade monitorada. O município tem 44 câmeras, que custaram R$ 300 mil, e conseguiu reduzir em cerca de 75% os delitos. E planeja instalar mais 32 equipamentos, com recursos próprios. “Hoje detectamos bastante uso de drogas e atos de vandalismo”, diz o diretor de departamento da Guarda Municipal, Gilmar Alves Rolin.Outras cidades paranaenses são novatas no sistema, como Araucária, na região metropolitana de Curitiba. No início de fevereiro, a prefeitura instalou 26 câmeras pela cidade. Com capacidade de rotação de 360 graus na horizontal e 180 na vertical, captam com precisão imagens que podem ficar armazenadas por até 30 dias.A maior parte dos recursos para implantação do sistema (R$ 800 mil) veio do governo federal, por meio do Pronasci. Outros 200 mil partiram do município, que tem 116 mil habitantes. Apesar do pouco tempo de uso das câmeras, os moradores aprovam a iniciativa. “Acho que vai inibir os ladrões, é positivo”, diz o comerciante Raul Lisboa, 40 anos. Para ele, o monitoramento não pode ser considerado invasão de privacidade porque a rua é local público.
(Jornal Gazeta do Povo/PR – 21/03/2011)
Origem: http://www.abese.org.br/clipping21-03-2011/
Engº Marcelo Peres
mpperes@guiadocftv.com.br
Editor do Guia do CFTV
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